domingo, 5 de outubro de 2008

Sub-representação Feminina nas Eleições, ou Eleições Sub-representadas?

fonte: cfemea 2006

Consulte a Lei 9.504/97 pelo sítio: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm

1) Esta Lei destina uma cota que estabelece 30% das vagas para candidaturas de mulheres;

2) Ela não possui estratégias punivas para o monitoramento da cota, o que a torna, quase simbólica;

3) "Desde que a Lei foi criada nenhum partido respeitou o sistema de cotas nas eleições que se sucederam" (cfema);

4) Ela vem impregnada por um contexto social de segregação por gênero, em que muitas mulheres são obstaculadas pela desigualdade da divisão social do trabalho. Com o acúmulo de funções, elas dispõem de pouco tempo para a participação na vida política da sua comunidade ou da sua cidade. Para além disso, a "cultura do masculino", principalmente na realidade das eleições, dificulta ainda mais o acesso da mulher no ambiente político.

5) A importância das cotas está presente na abertura da participação da mulher nas decisões políticas como forma de quebrar o manopólio masculino e para a defesa de questões de justiça social que norteiam o universo da mulher.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

(só) Jesus vai à escola

Publicação da revista Época deste mês


Trecho retirado da matéria de capa


"Para a educadora Roseli Fischmann, professora da Universidade de São Paulo (USP), a escola deve ser capaz de ensinar o respeito mútuo sem depender da religião. (destaque meu)“Na cabeça da criança, as noções de ética, direito e respeito não podem estar vinculadas a um Deus. Senão, o que vai acontecer se ela brigar com um colega que tem um Deus diferente do dela? Ou se, um dia, questionar sua religião?” Roseli faz parte de um grupo de educadores e sociólogos que evoca o princípio do estado laico (sem religião) para criticar a entrada na fé das escolas públicas. Para ela, cabe à família decidir se quer ou não transmitir sua religiosidade ao seu filho."


O desrespeito ao Estado laico vai mais longe. A Igreja Católica Apostólica Romana mantém um lobby junto ao Congresso Nacional que tenta tornar obrigatório o ensino religioso no Brasil. Segundo a Lei nº 9.394 de Dezembro de 1996, o ensino religioso no Brasil é facultativo cabendo aos estados manter suas regras de ensino respeitando o culto a diversidade religiosa, sendo vedada qualquer forma de proselitismo.


Trecho da matéria


"Embora os gestores estaduais se preocupem em contemplar a diversidade religiosa, pesquisadores afirmam que poucos professores ministram o curso totalmente equilibrado. Essa é uma das conclusões da segunda pesquisa que a ÉPOCA teve acesso, coordenada pelo antropólogo Emerson Giumbelli, do Instituto de Estudo da religião (Iser). Segundo Giumbelli a maioria dos professores é católica, e eles tendem a sua religião. “Mesmo sem se dar conta, acabam misturando o ensino da história com sua crença”, afirma."


Para que o professor possa ensinar religião nas escolas, ele precisa se capacitar por meio de cursos que, normalmente, são ofertados pelas Secretarias de Educação. Mas o que ocorre é: grande parte das escolas que ensinam religião no Brasil são Confessionais. Estas, só oferecem cursos ministrados por representantes da Igreja Católica. Além disso, as escolas Confessionais têm como objetivo ensinar a doutrina de religiões majoritárias, enquanto as de pequena expressão são marginalizadas.


Trecho da matéria


“Temos alunos deixando a escola porque sofreram discriminação religiosa e devido a sua opção sexual”, diz Penildon Silva Filho, diretor responsável pela formação de professores na Secretaria de Educação da Bahia. “Como gestor e membro do governo, procuro sensibilizar os professores para que trabalhem a diversidade nessa aula. Mas, como cidadão e educador acho que a tolerância religiosa deveria ser um tema transversal assim como cidadania, a ética, a sexualidade e o meio ambiente. Não entendo porque haver uma aula só para o ensino religioso.”


Trecho da matéria


“Para os detentores do ensino laico, o debate de como incluir Deus nas escolas é um retrocesso ao século XIX. Na Idade Média, Estado e Igreja eram Instituições interligadas. A separação teve início com o teólogo alemão Martinho Lutero, que, em 1517, fundou a Igreja Protestante. Para ele, o papel do governo civil seria manter a paz na sociedade, não devendo interferir nas leis espirituais. Quase 200 anos depois, a Declaração da Independência dos Estados Unidos (1776) estabelece as bases para a liberdade religiosa e os direitos cíveis. Na mesma época, a Revolução Francesa tirou o poder estatal das autoridades religiosas. Os movimentos nos Estados Unidos e na França serviram de modelo para o Ocidente, incluindo o Brasil.”


É sob o encaixe desse modelo que o Estado brasileiro deve permanecer. Tornar qualquer religião oficial é um freio na liberdade de culto e de expressão e se constitui numa ameaça a democracia. Inserir o ensino de religião nas escolas pode se tornar numa armadilha para a tolerância e a diversidade.



Matéria da revista ÉPOCA na íntegra: http://www.ccr.org.br/


Esse gráfico mostra a organização do ensino de religião no Brasil




No sítio http://www.iser.org.br/exibe_noticias.php?mat_id=129 do Instituto de Ensino Religioso no Brasil podemos encontrar a cobertura detalhada nos Estados.

domingo, 17 de agosto de 2008

Rua em exposição

Exatamente aquilo que está por trás da evidência, é arte. É também a desmascaração da aparência que o mundo nos apresenta e ainda nossa capacitação para a compreensão da realidade. Mas na verdade, ela não necessariamente tem esses definidos conceitos, nem essa bonita ordem. Não.


Tudo bem, comecemos de novo.


Pense naquilo que te faz sentir a pele ao avesso, e - como que com um toque - te revirasse o estômago. Como se o eriçamento dos pêlos já não sustentasse mais sozinho, à tamanha sensibilidade. Já não expressasse mais nenhum encantamento. É um up na intuição e um blow up na imaginação. Isso é arte. É o começo do exercício-sensível.


Quando se passa a enxergar possibilidades ao invés de realidades, pensa-se “artisticamente”, imagina-se. Cria-se um universo flexível, estratificado e sinestésico. Intui-se a presença do ausente, revela-se a fragilidade do existente. Sente-se. Deslumbra-se.


Exercitar essa sensibilidade em arte é manter contato com ela. É perceber suas sutilezas em uma convivência aberta e eclética. É se exaurir em cada obra em sua condição de exclusividade e esclarecer a emoção com sentimento e não com a razão. Para tanto, o ingresso a essa prática se dá apenas com uma arte democratizada, longe dos templos-museu, longe da onipresença.


Muitas vezes, a facilidade de estarmos diante de uma obra de arte é tão grande, que não a percebemos. Ela pode estar numa esquina, na sacada de uma casa, ou até mesmo numa placa de sinalização. Sua rua pode abarcar personagens fictícios, figuras exaltadas, mensagens subliminares, mensagens de protestos ou... um homem sem cabeça. (vai entender!).


A produção artística ganha seu real sentido se tiver público. Assim, nada mais óbvio que deixá-la (ou fazê-la) em público. Não há estratégia mais democrática que aproximar as pessoas da obra de arte e fazê-la interagir. Causar-lhes sensações, deslumbramentos ou espasmos de compreensões de mundo, é a intenção primeira da arte. Fazer mostrar o mundo como passível de ser compreendido e até mesmo transformado.


Não seria um verdadeiro confronto com a realidade encontrar nas avenidas mais movimentadas obras ousadas que tocassem em nossa imaginação, que nos surpreendessem? Estranhas, bizarras, curiosas, mas ao mesmo tempo criativas e híbridas de significações. Isso é arte de rua. Com um olhar mais apurado podemos notar o quanto artes como essas, podem falar o mundo, subverter o “aceitável”, instigar reações e, simplesmente, deixar o espaço mais sociável.

(arte em 3d)


(Suficientemente quente)


Alessandra Cestac (http://www.alessandracestac.com.br/)

(sutileza)

(Quixote)

O meio onde a obra de arte se realiza não é um acaso ou uma escolha indiferente do artista. É a expressão de um fazer artístico, de uma arte intencional. A intervenção urbana é a forma de revelar a arte como possível de ser observada e ser exercitada.


Entendida como a comunicação mais transparente e revolucionária, a arte instaura a possibilidade de “erguimento” de uma nova condição de vida. Ela transgride o comum na busca por caminhos pré-reais, por caminhos “bifurcadores”.


sexta-feira, 15 de agosto de 2008

How soon is now tatu

Essa música me faz ficar um tanto memorativa. Talvez porque TA.TU faz parte de uma fase muito boa da minha vida. Aliás, talvez não, ela realmente faz. Bom... para quem ainda curte, ta aí o clipe que eu mais gosto delas. xD

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Reforço

Notícia não muito recente, foi de maio deste ano, como pode ser visto, mas muito importante para, digamos, completar a sessão ABORTO abaixo!
Pra quem ainda não viu, ta aí!!

(eu tinha que postar!!).


01/05/2008 - 15h12

Maiorias das brasileiras que abortam são católicas, diz estudo

Colaboração para a Folha Online da Agência Brasil

Uma pesquisa realizada pela UnB (Universidade de Brasília) e pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) revelou que a maioria das brasileiras que aborta é católica --o percentual varia de 51% a 82%, conforme a faixa etária--; tem entre 20 e 29 anos; e já são mães.

"Para a massa, que a vê [a Igreja Católica] como um meio de conforto, e não como uma cartilha dogmática, ela não é suficiente para as mulheres mudarem sua decisão", opina a pesquisadora da UnB Débora Diniz.

Para ela, a conclusão não surpreende, já que grande parte dos brasileiros se diz católica. Em segundo lugar ficaram espíritas (4,5% a 19,2%) e, em terceiro, evangélicas (2,6% e 12,2%).

Para os autores do levantamento, o alto número de abortos feitos por mulheres que já têm filhos (entre 70,8% e 90,5%) reforça a tese de que o aborto seria medida de planejamento reprodutivo, empregado em último caso, quando os outros métodos contraceptivos falharam. "Ao contrário do que se imagina, essa não é uma solução para a gravidez indesejada de uma mulher que desconheça o sentido da maternidade", afirma a pesquisadora.

Outro dado que corrobora essa tese é o uso de métodos contraceptivos pelas mulheres que interromperam a gravidez. Segundo a pesquisa, mais de 50% das que abortaram nas regiões Sul e Sudeste usavam algum método anticoncepcional, principalmente pílulas. Já na região Nordeste, a porcentagem oscila entre 34% e 38,9%.

Cytotec

O medicamento de venda controlada misoprostol, o Cytotec, é o abortivo mais comum, de acordo com a pesquisa. Indicada para problemas gástricos, a substância foi usada por até 84% das mulheres que fizeram abortos de 1997 a 2007. Na década de 80, medicamentos eram usados como métodos abortivos apenas entre 10% e 15% dos casos.

"Nos anos 80, tínhamos mulheres perdendo o útero e com processos infecciosos graves. Com a entrada do misoprostol, o período de internação e as seqüelas associadas ao aborto diminuem consideravelmente no cenário brasileiro", disse a pesquisadora.

Diniz destacou, no entanto, que pílulas compradas por meio de traficantes têm autenticidade questionável e que as subdoses --decorrência do uso sem orientação médica-- implicam em atendimento médico para completar o abortamento e reações como hemorragias e dores.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Pela vida que acontece

Exercer a liberdade não é fazer o que se quer, quando se quer, como se quer de forma impensada. É antes disso (e acima disso), deliberar atitudes por meio de decisões conscientes. É dessa forma que ela se torna nossa condição para existir, pois, nos impulsiona a agir. Quando ela nos é expurgada, paralisamos no determinismo, ou seja, “agimos” por intermédio do que nos ditam os outros. É assim que funciona um Estado antidemocrático. É nesse Estado que deixamos de existir como seres individuais, dotados de capacidade de tomar decisões sobre nossa própria vida.

Dessa forma, dizer o que fazer, quando fazer, e como fazer (ou o NÃO fazer), sem considerar os contextos e os sujeitos sociais, é, no mínimo, agir de má fé. E é essa a atitude tomada pelo Estado que nos representa. Há 17 anos surgiu o Projeto de Lei 1135 pela descriminalização do aborto. Em 1991, o Brasil passava por um período de retomada da democracia, e o tema parecia complexo demais para ser discutido dentro de um Congresso que se reestruturava, e por uma sociedade ainda despreparada. Mas em 2008, o tema é revivido após anos de espera e expectativa de quem lutou a vida inteira por justiça, ou seja, pela legalização do aborto. E de luto, milhões de mulheres receberam a notícia de sua revogação.

O arsenal legal no Brasil é embasado na lógica conservadora e patriarcal, em que às mulheres é designada a função social de reprodução, cuidado com os filhos e vivência no ambiente doméstico. Fortalecendo esse quadro de moral ultrapassada, a Igreja tenta se apossar do corpo feminino regulando sua reprodução por meio da condenação do uso de contraceptivos e da prática do aborto. E quando esses dois “poderes” se aliam contra a liberdade feminina, o resultado é o desrespeito pelo princípio de laicicidade do Estado, que não pode legislar segundo princípios religiosos.

A desigualdade entre homens e mulheres, baseada na divisão do papel social, torna a criminalização em razão do gênero. Muitas mulheres não conseguem negociar o sexo, pois, o parceiro, se acha no direito de decidir quando usar a camisinha (como qualquer outro contraceptivo, ele pode falhar), ou tratam o sexo como uma obrigação do casamento, forçando a mulher de suas “obrigações de esposa”. Em decorrência, a gravidez indesejada. Mas a criminalização do aborto, não os atinge.

A divisão de classe também representa mais um componente do quadro de agressões à liberdade da mulher. Os efeitos da criminalização atingem com mais intensidade a mulher em desvantagem social, ou seja, pobre e negra, por não ter como pagar um serviço de saúde de qualidade. O aborto clandestino ocorre aos milhares todos os anos, aumentando, como conseqüência, o risco de vida e de saúde para as mulheres, sendo o risco ainda maior, quando a situação é de pobreza. Além disso, quando uma mulher chega ao serviço público de saúde após um abortamento, é alvo de desrespeito, sofrendo humilhações e nenhuma orientação para os riscos de uma futura gravidez.

O aborto corresponde um dos mais graves problemas de saúde pública nos países onde é criminalizada. O aborto inseguro provoca danos físicos como a infertilidade, muitas vezes acompanhada de um útero perfurado - isso ocorre, quando o aborto é feito sem nenhuma ajuda ou em clínicas sem recursos. Problemas psicológicos também são muito comuns. Por serem discriminadas nos serviços de saúde e pela sociedade, o isolamento social e a culpa moral por ter praticado um ato clandestino, tornam-se os mais graves problemas para a vida social da mulher. A clandestinidade do aborto, além de tudo, é uma das maiores causas de mortes de mulheres no Brasil.

Assim como a liberdade não pode ser confundida como uma expressão da vontade desmedida, o aborto não pode ser confundido com um ato irresponsável, sem limites. Quem defende a legalização do aborto, levanta a bandeira por um aborto responsável, impondo restrições para que esse ato não agrida a saúde da mulher. Para que o aborto seja seguro, além de ser legalizado, ele deve ser feito com até 12 semanas de gestação, ou até vinte, em caso de má formação fetal ou riso de vida para a mulher.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Ovários Pagãos

Campanha contra o fundamentalismo religioso promovido pela Articulação Feminista Marcosur (http://www.mujeresdelsur.org.uy/index_e.htm ).

domingo, 27 de julho de 2008

Trans

É um tormento inexprimível. É uma busca incessante por um ser além de um é. Mas talvez seja assim mesmo que deva ser. Aliás, é (ou não é?).

Somos a eterna abertura, uma eterna incompletude do ser. Inconclusivos. O fato de não sermos algo, alguém, isso ou aquilo, te dar várias possibilidades de ser, e aquele tormento (quase) necessário torna-se gozo.

Vejamos:

Um ser-ter: “− Entre, esta é minha sala. Olha só! Não é um máximo essa minha cozinha. Ah, vem conhecer vem... querido!”

Um ser-fim: “− não sei, eu sou meio estranha mesmo. Sabe o que minha mãe disse outro dia. (− tu vieste de onde em menina?). fazer o quê? Eu sou assim mesmo.

Um ser - aparente: os já citados.

Um ser-real: “um poema apenas começado.” Ou talvez aquele cara sentado lá em cima. Viu?

O fato é que nem sempre estamos interessados no risco. Por conseguinte, na vida. Esse essencialmente - possibilidade - de - ser não nos atrai. O que se quer é o aparente, o confortável. Fazemos mais pelo parecer do que pelo ser. E o ser real torna-se clausura, só em pensamento (ou não).

Eu não quero ter a responsabilidade de espelhos quebrados, ou sonhos malogrados. Não. ... Ta vai, talvez sim. Mas o que está em questão é que o bom de ser aquele homenzinho lá em cima, sentado, em público, ao ar livre é exatamente a sua liberdade de ser. Por que é essa a condição que lhe da oportunidade de simplesmente mudar. Hoje eu posso ser aquilo lá, amanhã também, e depois? Depois eu posso ser um boneco de lata, ou um lixeiro cor de rosa... ou... Sei lá.

Acabou. Entendeu né? Então tá. Vou ouvir música agora.



sexta-feira, 27 de junho de 2008

Fugaz


− Onde está?... Como?!... Perdeu-se?!

− Ficou pra trás.

− Não, você está enganada, eu o imaginava.

− Sim eu sei.

− Então? Como pode ter se tornado passado?

− Porque tudo passa, não mais existe no próximo segundo...


Fechei a porta, cadeado, o maior que encontrei. No ônibus, relógio no pulso, Atraso. Olho pro lado, passo, passou por mim. Minha atração de adolescência. Quantos sonhos...

Na redação o frio diário. Computador, escrevo, reviso, escrevo.

Café. Sempre tomo! Aqui é realmente muito frio.

Era uma matéria sobre “relações familiares”. A sugestão foi minha. Aceita. Fruto de uma pesquisa universitária tornou-se quase um projeto de vida. Cada estatística, cada contato, cada gravação. Tudo. E cá estou, escrevendo, revisando, escrevendo.

Acabou, leio pra ela:

− nossa! Ta ma-ra-vi-lho-so!

Sorri.

Tento ler. Tem um cara dormindo ao meu lado. Muita gente em pé, uma longa fila de carros.

Missão cumprida. Ela gostou, ela escreve bem, sabe o que é um bom texto. É.

− será que foi um acidente?

Algo me desassossega. Deixa-me ver: escrevi aquilo... coloquei a fala dele... Não, está tudo certo.

Aí que demora. Tem ar demais aqui. Mas como? Com tanta gente? Mas tem!

Ele entra gélido em mim. Parece que ta sobrando espaço, e ele esta circulando livremente dentro de mim, me fazendo ter calafrios e... dor de barriga. É. Eu estou nervosa e não sei com o quê...

− Aí que demora é essa?

Mas que vazio é esse aqui dentro? Não entendo, agora mesmo estava radiante com MINHA matéria.

Mas ai está! Não é por conta da matéria, sou EU. Isso. EU!

Acabei, fiz um ótimo trabalho, mas agora cá estou, tendo que aturar a mim mesma. Sozinha. Sem mas nada a fazer. Acabou!

− finalmente esse ônibus sai do lugar!

Foi um longo tempo perseguindo esta meta. Um bom trabalho, uma boa recompensa. Todos comentando o texto. “o glamour

A insaciabilidade desse objetivo se desfaz, desmancha. Todo aquele tempo como um meio de alcançar. Nada era o bastante, pois faltava alcançar, sempre.

Cheguei. É apenas desilusão.

Talvez seja melhor passar antes na casa dela. Acho que já está em casa. Tudo me lembra o que ela havia me dito antes. É. É melhor ir.

Meu tempo como um meio. Minha vida como um meio. E o fim desvanecido com o objetivo satisfeito. Que inútil.

Tudo isso. Tanto tempo perdido. Tantos sentimentos e vontades e repentes... adiados por um fim OCO!

Ta. Tudo bem. Que drama!

Eu ainda tenho muitas idéias, vontades, paixões...

Mas pra quê? Pra tudo se tornar pó, e se reconstituir, e ser pó de novo. É realmente inútil.

– MOTORISTA! vai descer!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Vou fazer uma louvação, louvação, louvação!

De um simples nó, à imponência.

(- Mas não se deve esquecer aquele terno escuro... – como é o mesmo o nome? Ah! Terno EXECULTIVO. Isso.)

O desenvolvimento das competências multiplica o identificável. Assim, nos reconhecemos no outro. Com símbolos nos pés, nos óculos ou até mesmo nos dedos, nos integramos socialmente e exercitamos (porque não?) o poder.

A ostentação e o domínio dos recursos simbólicos, que dão alma ao que usamos, vemos, ouvimos ou lemos, é a pré-condição para o reconhecimento de um indivíduo na sociedade e torna-se indispensável, também, nas relações políticas e econômicas.

Cidadão assemelha-se ainda mais ao status (e ainda há quem diga que estamos na era da “sociedade interativa”).

A lógica é mais ou menos essa: com instituições públicas degradadas e falidas, os indivíduos recorrem às mídias (e outros meios), e mantêm-se informados sobre muitos de seus direitos e deveres, além de, muitas vezes, garantirem reparações sociais, que, normalmente, paralisariam na eterna burocracia dos órgãos públicos. Mas o que isso tem a ver com status e cidadania? Tudo. Sob esses encadeados de circunstâncias, a idéia de democracia e participação social sofreu alterações consideráveis. Isso, por sua vez, gerou uma sociedade desinteressada por política e pela coisa pública, ou seja, cada vez mais distante da idéia de coletivo.

O lugar foi cedido a uma cidadania de comportamentos e não de ações, do ter e não do fazer, das subjetividades simbólicas e não de “subjetividades ideológicas”.

A hierarquia social, dada pelo status econômico e profissional, é encarada como natural e aceitável como uma condição justa. Não por acaso, encontramos médicos exigindo um absurdo “ato médico” (somente os médicos poderão ocupar cargos de coordenação e chefia), discrepância de salários discriminada por cargos (e sexo, não esquecer!), empregados de cabeça baixa diante de patrões. São nesses termos que encontramos uma cidadania ao avesso. Uma cidadania para poucos, para os que têm condições de ser cidadão na plenitude do seu significado.

Enquanto uns usam a gravata, o nó aperta na garganta de quem nem sabe como fazê-lo. É na prática da subserviência que o processo de “interatividade social” ganha um sentido de dominação. A interação se dá em um único sentido: vertical, de cima para baixo. Interagimos sim, mas sob o comando das ordens que vem de cima. Do ponto mais alto dessa linha vertical, dividida por um nó de uma gravata.


Perils of Love...

"Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta."

Arnaldo Jabor


segunda-feira, 23 de junho de 2008

terça-feira, 13 de maio de 2008

O lamento da vitrola

Nesta segunda, o Brasil amanheceu mais triste. Olhos inchados (inclusive os meus) de quem chorou por alguém que não conheciam há um mês, que nunca trocaram, sequer, uma única palavra. Por alguém que só viram através da TV em qualquer canal desejável, protagonizando uma triste história que resultou em sua morte. O “caso Isabella” deixou os brasileiros perplexos por tamanha crueldade. Uma onda de indignação precipitava dos lares de cada um que assistia, todos os dias, a cobertura minuciosa que os telejornais traziam. Como um ritual a ser seguido religiosamente, a tragédia era repetida insistentemente como um disco velho emperrado na vitrola.

Neste último domingo, dia das mães, recebemos em nossos lares a visita da mãe mais esperada desde o último 29 de março. Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella, foi ouvida por ouvidos atentos e vista por olhos mareados. Numa entrevista chocante, vimos o sofrimento de uma mãe que não pôde esquecer, por um segundo que fosse, a tragédia que levou a morte de sua única filha de apenas cinco anos.

O efeito do dia seguinte não poderia ter sido melhor. A entrevista transcorreu com o sucesso esperado (e insistido). Os comentários nas casas, ruas e instituições sempre convergiam para o mesmo assunto, a entrevista EXCLUSIVA do Fantástico. A jornalista Patrícia Poeta, atual apresentadora do programa, desempenhou o papel de porta-voz mais fiel do interesse do público, que a essa altura, já esperava com o lenço em mãos ao primeiro sinal de emoção de Ana Carolina.

O público não segurava seus lenços por simples imaginação que eles lhes seriam úteis. Mas por que sabiam, pelo histórico jornalístico dos últimos tempos, que a entrevista seria levada, com única e exclusiva intenção, a fazer correr lágrimas nas fases do telespectador. Naturalmente não seria de se esperar outra reação, além de lágrimas, de uma mãe que há um mês perdeu sua filha brutalmente. Mas, numa completa falta de respeito a sua dor, Ana Carolina não teve outra opção: ou daria a entrevista, ou seria marcada como uma mulher fria e calculista, numa imagem construída por uma mídia cada vez mais despreocupada com fatos reais, com pessoas reais.

Obrigada a aceitar a insistente entrevista, Ana Carolina foi mais uma personagem no espetáculo dirigido pela Rede Globo. A manifestação pública de sentimentos tornou-se regra nas empresas de comunicação em detrimento de fatos e de opinião pública. Esse deslocamento de posição, não passa de mais uma estratégia política para garantir a docilidade do público cada vez mais isento das decisões de INTERESSE público e cada vez mais sentimental.

Maktube


“É... Na verdade eu me sinto um tanto envergonhada... Pois é! É exatamente por isso que você está pensando. A mais de um mês que eu não “passo” por aqui. Por tanto, devo minhas mais sinceras desculpas a quem ainda não desistiu (e a quem já desistiu, apesar de saber que eles não verão essas desculpas...) de dá uma olhadinha, de vez em quando, neste Blog.”


Digo logo! Custa-me acreditar em “instinto materno”. Talvez, as mulheres que DECIDEM ser mães adquiram esse potencial verdadeiramente admirável, mas, categorizar como algo tatuado em sua “natureza” realmente me custa acreditar. Mas pondo isso de lado, e mesmo sem encontrar ainda uma explicação, esse mês de maio, “mês das mães” (*.*), faz de mim uma MULHER bastante reflexiva.

Pensando bem, a explicação para esse momento de “devaneio” pode está aí, ser mulher. O que é uma pena, afinal, seria tão mais interessante ver homens participando mais do complexo bojo de decisões que é a vida daquela: ser simplesmente mulher, ou se transfigurar em esposas, nas noites quentes; em trabalhadoras, nos dias ensolarados; e em mães, nas madrugadas insones.

Inflexíveis, os papéis desempenhados pelas mulheres desencadeiam seqüências de alarmantes dificuldades no que se refere, principalmente, ao processo histórico de sua emancipação. Com a falta de compartilhamento que os homens e a sociedade tem na maioria das funções consideradas eminentemente femininas, como as responsabilidades com a família, a sobrecarga suportada por elas torna-se preocupante, mas ainda a poucos olhos.

A turva percepção da situação social da mulher revela um contexto recheado de preconceitos e uma divisão social de tarefas baseada no gênero. A baixa oportunidade e autonomia econômica, além de uma irrisória participação no processo de tomada de decisão e seu limitado acesso ao poder, fazem o número de mulheres pobres aumentar consideravelmente em relação aos homens.

Um agravante dessa situação é o inaceitável número de adolescentes grávidas. A maternidade precoce não só limita a melhoria da condição educativa da mulher, como agride a situação de vida daqueles que apenas começam a sentir seu gosto, as crianças. A desnutrição materna e a falta de acompanhamento médico, pré-natal, resultam em sérios problemas de saúde aos filhos. Não é sem motivo que a mortalidade é maior nos filhos de mães jovens, que em sua maioria também são pobres.

Recorrer ao aborto para escapar e não permitir que suas crianças vivam na extrema miséria é a mais desesperada atitude de uma mulher grávida em situação de calamidade. Os abortos clandestinos são praticados na sua imensa maioria por jovens, pobres e negras. Essa atividade ilegal representa um dos maiores problemas de saúde PÚBLICA que muitos países, incluindo o Brasil, convivem a cada dia sem que seja dada sua devida atenção. A clandestinidade do aborto causa seqüelas permanentes como a infertilidade e representa um dos maiores índices de mortalidade materna.

Por não encarar os DIREITOS sexuais como mais um dever a ser gerido pelo Estado - sendo entendido como direito constitucional à saúde -, muitas mulheres carregam a culpa e são punidas por recorrer à clandestinidade por falta de assistência. A imposição que a mulher sofre para manter uma gravidez indesejada, não apenas agride seu direito à saúde como também seu direito à liberdade.

Reconhecer a competência da mulher em decidir sobre sua sexualidade e maternidade é um respeito aos direitos humanos. Essa falta de respeito denuncia ainda o grau de desigualdade com que é tratado homens e mulheres na responsabilidade da concepção. A criminalização do aborto exclui os homens dessa responsabilidade e condena a mulher como a única “culpada” pela gravidez. Não se considera também a absurda imposição sexual masculina na hora de negociar o ato sexual como uma resultante da gravidez indesejada.

A moralidade social caduca, sobretudo a religiosa, permanece cega e irredutível sobre os fatos. Fatos esses que mostram mulheres condenadas a uma vida não planejada e crianças morrendo desnutridas ou de doenças que poderiam ser evitadas. A igreja condena o uso de contraceptivos e condena o aborto. Um ato de completa ignorância e descompasso com a realidade.

A existência não é dada. Ela se faz, se constrói. A vida é uma projeção para o ser, que por sua vez só o é, com atos. Sem isso ela não é nada, é só, talvez, uma vida em potencial. Legalizar o aborto é um ato de justiça social. É a preservação da vida em plenitude, da vida que acontece. Da vida de quem deve ter o direito de escolher ser mãe, numa atitude livre e responsável. Obrigar uma mulher a ser mãe é um ato conservador que encara a maternidade como um dever e não como uma forma de amor.

segunda-feira, 31 de março de 2008

E o espetáculo vai (re) começar!

Finalmente. Enquanto algumas pessoas não mais se lembravam da sua existência, eis que ele surge para a surpresa geral. O XII Festival Nacional de Arte (FENART) será realizado entre os dias 18 e 26 de Abril no Espaço Cultural, com a seguinte programação: http://www.portalcorreio.com.br/entretenimento/matler.asp?newsId=30576. Mas, para que nossa memória não se perca (novamente) na euforia da grandeza do espetáculo, vale relembrar os motivos (ou a falta deles) das inúmeras protelações do Festival.

Em entrevista com a vice-presidente da Funesc Val Veloso no dia 1º de outubro do ano passado, eu e mais dois amantes do Festival, e a cima de tudo, preocupados com a falta de informação sobre os inexplicáveis adiamentos, constatamos apenas o que já sabíamos: a grande falta de interesse de quem promove o Festival.

Com um nervosismo que teimava em fazer de Val Veloso uma mulher preocupada com o que ouvia de nós, e principalmente, com as palavras a serem escolhidas para nos responder, decorria nossa entrevista. E entre desculpas e ponderações, alguns questionamentos foram esclarecidos, mas não justificados, afinal, foram dois anos sem Fenart e sem nenhuma informação.

As intermináveis obras de reforma e modernização do Espaço Cultural, que por sua vez, deveriam ser entregues há mais de um ano, entraram no ranking das desculpas favoritas da vice-presidente. Somando-se a ela, veio o alerta do Ministério Público pela falta de um projeto de isolação acústica, previsto por um termo de ajustamento de conduta assinado juntamente com a Fundação, e que ainda não foi cumprido. Dessa falta de compromisso, renderá ao Fenart uma duração mais curta: a meia-noite (assim como Cinderela) o encanto de mais uma noite de espetáculo chegará ao fim.

A perda do caminho para as “saídas de tangente” das desculpas que ouvimos, foi quando o assunto sobre recursos entrou em cena. A Lei Roaunet (Lei Federal de Incentivo à Cultura) na qual o Festival está inscrito, chegou a aprovar mais recursos que o necessário para o evento. Através dessa Lei ainda, foi concedido a captação de recursos de instituições privadas, que, na época da entrevista, já havia prováveis parceiros como: o Banco Real, Saelpa e Lojas Maia. Ainda, segundo o ex-presidente da Funesc, Temístocles, a Fundação aumentou sua receita em 69% em quatro anos.

São por esses motivos (e contradições) que é necessário nos valermos da apresentação dos fatos, para não deixarmos que a memória ensurdeça, pois, perdemos dois anos do nosso (ouso dizer) melhor evento cultural, por falta de interesse e organização de quem anda a frente do Festival.

Apesar desses esclarecimentos, é importante ainda tomarmos nota das discussões travadas entre aqueles que, assim como eu, são fãs incondicionais do Festival. Visite a comunidade do Orkut http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=4223386 e comprove que ainda há pessoas preocupadas em manter as poucas manifestações culturais que temos, e que, além disso, têm boa memória.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Paraíso Perdido


Estender-se ao outro, provar da existência do outro, “roubar-lhe a consciência”, sair de si mesmo livre e espontaneamente. É assim mesmo que funciona. Sentimentos partem exclusivamente de nós mesmos, nascem da nossa escolha. Por mais excêntrico que possa parecer, sempre vi sentimento como uma prova da “superioridade” da razão. Como prova da nossa humanidade. Mas confesso que de uns tempos pra cá isso veio me inquietando. É como se o peso do crescimento diário fosse capaz de quebrar algumas das certezas mais acabadas, das razões mais esculpidas. É isso mesmo! Talvez Freud tivesse (alguma) razão – ouvir isso ontem da voz de um amigo. É como se os instintos humanos guiassem nossas atitudes, e fossem hierarquizados por nossas razões.

Não sei, em porcentagem, quanto temos de animal e quanto temos de humano (espero que sejamos pelo menos 90% humanos), mas o pior, é que minhas parcas certezas sobre essa “contagem” se esvaem por segundo (chega de números!). É razão pra cá, pra co lá, pra cima, pra baixo, que ando me sentindo meio “descaderada” de tanta razão. Acho que sou mais uma vítima do surto de individualidade que circunda nossas cabecinhas ocupadas demais. Andamos uns ao lado de outros sem perceber presença, sem interesse, sem aprofundamento. Uma multidão verdadeiramente solitária. E é nessa corrente de indivíduos “in bolha” (cada um na sua), que eu me sinto meio perdida, ou seria meio “embolhada”?

Até mesmo o corpo – o seu mesmo – tornou-se domesticado. Boas máquinas para um trabalho cada vez mais exaustivo, mais competitivo. Perdemos o prazer dos corpos, pois perdemos também, o controle sobre eles. Quando seu professor, seu colega, sua mãe ou seu/sua namorado (a), tentando lhe aconselhar, lhe diz: - faça o que lhe dá prazer na vida! Eles dizem também (sem perceber, claro!) que o nosso corpo, cheio de instintos, necessita de prazer, e este está diluído no ambiente da casa, do trabalho, na rua. Pense assim, quando terminamos um trabalho que queríamos muito ter feito, e para isso colocamos todas as nossas emoções, e o melhor de nós, sentimos PRAZER. Talvez seja isso que nos falta, prazer.

O instinto (fecundo dos prazeres) talvez seja a força (e bota força nisso) que nos impulsiona a agir, que nos faz procurar sempre o prazer (e, por conseguinte a alegria). É o que nos faz viver sempre inflamados. A razão torna-se o princípio que busca meios de conseguir o que os instintos asseiam. Meios humanos de agir, meios de sossegar essa brasa constante.

Talvez sejam esses os princípios mais associáveis, vivendo juntos em uma única bolha.

terça-feira, 18 de março de 2008

Panfletagem Digital

“Muito antes de sentir "arte", senti a beleza profunda da luta. Mas é que tenho um modo simplório de me aproximar do fato social: eu queria era "fazer" alguma coisa, como se escrever não fosse fazer. O que não consigo é usar escrever para isso, por mais que a incapacidade me doa e me humilhe. O problema de justiça é em mim um sentimento tão óbvio e tão básico que não consigo me surpreender com ele – e, sem me surpreender, não consigo escrever.” (Clarice Lispector)

Tenho que admitir. Não consigo mais escapar disso – se é que algum dia já tentei. Mas na contramão do que revela Clarice Lispector à cima, escrever sobre; justiça, igualdade ou... alternativas humanas de vida é, para mim, uma necessidade. Talvez seja minha metade frustrada tentando justificar-se pela falta de AÇÕES de fato, ou seja, de atitudes na prática.

Com efeito, dizer que a história estacionou seu curso dinâmico, que não há mais nenhuma alternativa para o mundo – que não seja a ordem capitalista, é aceitar essa falta de ações por melhores condições de existência, como uma resposta natural de uma já “avançada sociedade”.

Não sei bem para que lado avançamos. Talvez pelo meio, isso! Bem pelo centro (no centro da Terra). De fato, todos os problemas, inerentes ao sistema, formam uma grande “bola de fogo”, crescendo solene, norteando a origem das pragas sociais.

São contradições enlaçando-se a contradições. Aliás, o “nosso” sistema sobrevive delas. Relações baseadas em interesses antagônicos, em que os conflitos permanecem endêmicos, mesmo sendo constantemente abafados. A banalização dos conflitos torna-se ainda mais evidente em sociedades (como a nossa) em que a situação de classes torna-se alarmente.

É como uma “lei da sobrevivência contemporânea”. Tiramos “a vida” de uns para o enriquecimento de outros. Mas somos muito mais refinados nesse intento, afinal, somos civilizados e pensamos essa relação de dominadores e subalternos como uma ordem necessária e comum. Os artigos dessa lei sustentam-se nessa descrença que circunda as mentes, até mesmo, dos esquerdistas mais fervorosos. Sustenta-se na idéia de que, mesmo sendo imperfeita, não há alternativa aceitável para a ordem capitalista.

Admitimos o Conservadorismo do Estado que teima em confundir interesses sociais com interesse do capital; sua insensibilidade em tratar a assistência social básica, travando nossos sistemas públicos numa eterna burocracia. Aceitamos dóceis ainda, as reformas superficiais (que não se inserem, intencionalmente, dentro de um quadro de mudanças profundas), guerras insanas para tornar o mundo mais seguro para o capitalismo, além da miséria, das dívidas entre países e uma lista infindável de mazelas provocadas por um sistema deformado.

Não sei o que me dói mais: a constatação de que o capitalismo se fortalece na mesma velocidade da luz, a ponto de não nos darmos conta, ou se é nossa desilusão quanto ao mundo que queremos ter. Talvez o que me doa mais é ter que ainda preencher mais um espaço nesse blog escrevendo nada de novo, sentada em frente a um computador, enquanto tudo acontece ao meu redor, debaixo dos meus (nossos) olhos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

O mercado da criação

Durante muito tempo, a cultura, como arte, tinha a função de se render à religião, hoje, com a perda do encantamento do mundo e a exacerbação da razão, a cultura ganhou novas amarras, a do mercado capitalista.

Afixado dentro desse enorme comércio, a cultura andou perdendo sua característica contemplativa e reflexiva, ganhando um caráter de obra vazia de significações, apenas com valor de venda e aquisição de status.

Essa transformação gradual segue regras ditadas por uma ideologia, conhecida pelo nome de Indústria Cultural, onde toda e qualquer criação humana tornam-se eventos de consumo. São idéias transformadas em produtos culturais fabricados em série, ou seja, o que era uma obra original, hoje se encontra repetida e reprodutiva.

Ao contrário do que muitos poderiam imaginar, a cultura, através dos meios de comunicação, não se democratizou, pois para tanto, ela deveria representar o direito ao acesso, onde todos pudessem criticar, incorporá-las à suas vidas, superá-las e criar. A Indústria Cultural produziu um efeito oposto, a massificação da cultura.

Através dos preços, as indústrias já selecionam quem terá acesso a ouvir, ver e ler, introduzindo a segregação social entre “cultos” e “incultos”. E como toda boa empresa se utiliza de marketing, foi introduzida a idéia de cultura como entretenimento, em que tudo o que faz pensar, refletir e criticar não vende, pois a intenção do “comércio cultural” não é mexer com os pensamentos humanos, e sim, devolver com outra cara, aquilo que ele já sabe. O efeito produzido nessa teia da Industrial Cultural é a banalização do conhecimento e da criação.

E assim se fez palavras

Esse tempo é o mais sufocante. Fico realmente exasperada. O que me ocorre são apenas quimeras que [anseiam] explicar o porquê de tamanha demora... (o eu pensando: “... é como um intervalo de vida provocado pelo aumento considerável do coração, que comprime a caixa torácica, que, por sua vez, espreme, a ponto de diminuí-lo o tamanho, os pulmões.”) e assim se explica a sensação de sufocamento à cima.

Engraçado caro leitor, é assim mesmo! Rápido e EXASPERADO. Só que... Mesmo com essa aparência de parada cardíaca, ou... enfim... com essa velocidade, é longo demais esse tempo...

(procurando recompor-me dessa falta repentina de ar)

Pronto. Chegou a hora.

É porque caro leitor, escrever para mim é sempre trabalho. Talvez porque tudo se Aparece com uma certeza quase tão absoluta, que não sobra muito espaço para palavras batutas e inquietas, forçando infiltrarem-se por debaixo desse “tudo”, tentando içá-lo (assim como o magma fez com os continentes, imaginou?), desordenando-o, tirando-o do lugar, transformando-o.

O tempo entre pensar e colocá-lo impresso numa folha em branco (ou numa tela) torna-se realmente convulcionante. Isso parte exatamente do reconhecimento da força que as palavras têm e do risco iminente em usá-las. Mas como ariscar-se é ser livre (já dizia Sartre) escrevo cada uma dessas palavras já lidas por vocês e as próximas que virão, exercendo minha condição de livre, sem amarras. É como se eu tivesse bebido desse magma e pudesse de alguma forma, deixar para sempre registrado uma experiência, finalmente, iniciada por mim.