segunda-feira, 31 de março de 2008

E o espetáculo vai (re) começar!

Finalmente. Enquanto algumas pessoas não mais se lembravam da sua existência, eis que ele surge para a surpresa geral. O XII Festival Nacional de Arte (FENART) será realizado entre os dias 18 e 26 de Abril no Espaço Cultural, com a seguinte programação: http://www.portalcorreio.com.br/entretenimento/matler.asp?newsId=30576. Mas, para que nossa memória não se perca (novamente) na euforia da grandeza do espetáculo, vale relembrar os motivos (ou a falta deles) das inúmeras protelações do Festival.

Em entrevista com a vice-presidente da Funesc Val Veloso no dia 1º de outubro do ano passado, eu e mais dois amantes do Festival, e a cima de tudo, preocupados com a falta de informação sobre os inexplicáveis adiamentos, constatamos apenas o que já sabíamos: a grande falta de interesse de quem promove o Festival.

Com um nervosismo que teimava em fazer de Val Veloso uma mulher preocupada com o que ouvia de nós, e principalmente, com as palavras a serem escolhidas para nos responder, decorria nossa entrevista. E entre desculpas e ponderações, alguns questionamentos foram esclarecidos, mas não justificados, afinal, foram dois anos sem Fenart e sem nenhuma informação.

As intermináveis obras de reforma e modernização do Espaço Cultural, que por sua vez, deveriam ser entregues há mais de um ano, entraram no ranking das desculpas favoritas da vice-presidente. Somando-se a ela, veio o alerta do Ministério Público pela falta de um projeto de isolação acústica, previsto por um termo de ajustamento de conduta assinado juntamente com a Fundação, e que ainda não foi cumprido. Dessa falta de compromisso, renderá ao Fenart uma duração mais curta: a meia-noite (assim como Cinderela) o encanto de mais uma noite de espetáculo chegará ao fim.

A perda do caminho para as “saídas de tangente” das desculpas que ouvimos, foi quando o assunto sobre recursos entrou em cena. A Lei Roaunet (Lei Federal de Incentivo à Cultura) na qual o Festival está inscrito, chegou a aprovar mais recursos que o necessário para o evento. Através dessa Lei ainda, foi concedido a captação de recursos de instituições privadas, que, na época da entrevista, já havia prováveis parceiros como: o Banco Real, Saelpa e Lojas Maia. Ainda, segundo o ex-presidente da Funesc, Temístocles, a Fundação aumentou sua receita em 69% em quatro anos.

São por esses motivos (e contradições) que é necessário nos valermos da apresentação dos fatos, para não deixarmos que a memória ensurdeça, pois, perdemos dois anos do nosso (ouso dizer) melhor evento cultural, por falta de interesse e organização de quem anda a frente do Festival.

Apesar desses esclarecimentos, é importante ainda tomarmos nota das discussões travadas entre aqueles que, assim como eu, são fãs incondicionais do Festival. Visite a comunidade do Orkut http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=4223386 e comprove que ainda há pessoas preocupadas em manter as poucas manifestações culturais que temos, e que, além disso, têm boa memória.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Paraíso Perdido


Estender-se ao outro, provar da existência do outro, “roubar-lhe a consciência”, sair de si mesmo livre e espontaneamente. É assim mesmo que funciona. Sentimentos partem exclusivamente de nós mesmos, nascem da nossa escolha. Por mais excêntrico que possa parecer, sempre vi sentimento como uma prova da “superioridade” da razão. Como prova da nossa humanidade. Mas confesso que de uns tempos pra cá isso veio me inquietando. É como se o peso do crescimento diário fosse capaz de quebrar algumas das certezas mais acabadas, das razões mais esculpidas. É isso mesmo! Talvez Freud tivesse (alguma) razão – ouvir isso ontem da voz de um amigo. É como se os instintos humanos guiassem nossas atitudes, e fossem hierarquizados por nossas razões.

Não sei, em porcentagem, quanto temos de animal e quanto temos de humano (espero que sejamos pelo menos 90% humanos), mas o pior, é que minhas parcas certezas sobre essa “contagem” se esvaem por segundo (chega de números!). É razão pra cá, pra co lá, pra cima, pra baixo, que ando me sentindo meio “descaderada” de tanta razão. Acho que sou mais uma vítima do surto de individualidade que circunda nossas cabecinhas ocupadas demais. Andamos uns ao lado de outros sem perceber presença, sem interesse, sem aprofundamento. Uma multidão verdadeiramente solitária. E é nessa corrente de indivíduos “in bolha” (cada um na sua), que eu me sinto meio perdida, ou seria meio “embolhada”?

Até mesmo o corpo – o seu mesmo – tornou-se domesticado. Boas máquinas para um trabalho cada vez mais exaustivo, mais competitivo. Perdemos o prazer dos corpos, pois perdemos também, o controle sobre eles. Quando seu professor, seu colega, sua mãe ou seu/sua namorado (a), tentando lhe aconselhar, lhe diz: - faça o que lhe dá prazer na vida! Eles dizem também (sem perceber, claro!) que o nosso corpo, cheio de instintos, necessita de prazer, e este está diluído no ambiente da casa, do trabalho, na rua. Pense assim, quando terminamos um trabalho que queríamos muito ter feito, e para isso colocamos todas as nossas emoções, e o melhor de nós, sentimos PRAZER. Talvez seja isso que nos falta, prazer.

O instinto (fecundo dos prazeres) talvez seja a força (e bota força nisso) que nos impulsiona a agir, que nos faz procurar sempre o prazer (e, por conseguinte a alegria). É o que nos faz viver sempre inflamados. A razão torna-se o princípio que busca meios de conseguir o que os instintos asseiam. Meios humanos de agir, meios de sossegar essa brasa constante.

Talvez sejam esses os princípios mais associáveis, vivendo juntos em uma única bolha.

terça-feira, 18 de março de 2008

Panfletagem Digital

“Muito antes de sentir "arte", senti a beleza profunda da luta. Mas é que tenho um modo simplório de me aproximar do fato social: eu queria era "fazer" alguma coisa, como se escrever não fosse fazer. O que não consigo é usar escrever para isso, por mais que a incapacidade me doa e me humilhe. O problema de justiça é em mim um sentimento tão óbvio e tão básico que não consigo me surpreender com ele – e, sem me surpreender, não consigo escrever.” (Clarice Lispector)

Tenho que admitir. Não consigo mais escapar disso – se é que algum dia já tentei. Mas na contramão do que revela Clarice Lispector à cima, escrever sobre; justiça, igualdade ou... alternativas humanas de vida é, para mim, uma necessidade. Talvez seja minha metade frustrada tentando justificar-se pela falta de AÇÕES de fato, ou seja, de atitudes na prática.

Com efeito, dizer que a história estacionou seu curso dinâmico, que não há mais nenhuma alternativa para o mundo – que não seja a ordem capitalista, é aceitar essa falta de ações por melhores condições de existência, como uma resposta natural de uma já “avançada sociedade”.

Não sei bem para que lado avançamos. Talvez pelo meio, isso! Bem pelo centro (no centro da Terra). De fato, todos os problemas, inerentes ao sistema, formam uma grande “bola de fogo”, crescendo solene, norteando a origem das pragas sociais.

São contradições enlaçando-se a contradições. Aliás, o “nosso” sistema sobrevive delas. Relações baseadas em interesses antagônicos, em que os conflitos permanecem endêmicos, mesmo sendo constantemente abafados. A banalização dos conflitos torna-se ainda mais evidente em sociedades (como a nossa) em que a situação de classes torna-se alarmente.

É como uma “lei da sobrevivência contemporânea”. Tiramos “a vida” de uns para o enriquecimento de outros. Mas somos muito mais refinados nesse intento, afinal, somos civilizados e pensamos essa relação de dominadores e subalternos como uma ordem necessária e comum. Os artigos dessa lei sustentam-se nessa descrença que circunda as mentes, até mesmo, dos esquerdistas mais fervorosos. Sustenta-se na idéia de que, mesmo sendo imperfeita, não há alternativa aceitável para a ordem capitalista.

Admitimos o Conservadorismo do Estado que teima em confundir interesses sociais com interesse do capital; sua insensibilidade em tratar a assistência social básica, travando nossos sistemas públicos numa eterna burocracia. Aceitamos dóceis ainda, as reformas superficiais (que não se inserem, intencionalmente, dentro de um quadro de mudanças profundas), guerras insanas para tornar o mundo mais seguro para o capitalismo, além da miséria, das dívidas entre países e uma lista infindável de mazelas provocadas por um sistema deformado.

Não sei o que me dói mais: a constatação de que o capitalismo se fortalece na mesma velocidade da luz, a ponto de não nos darmos conta, ou se é nossa desilusão quanto ao mundo que queremos ter. Talvez o que me doa mais é ter que ainda preencher mais um espaço nesse blog escrevendo nada de novo, sentada em frente a um computador, enquanto tudo acontece ao meu redor, debaixo dos meus (nossos) olhos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

O mercado da criação

Durante muito tempo, a cultura, como arte, tinha a função de se render à religião, hoje, com a perda do encantamento do mundo e a exacerbação da razão, a cultura ganhou novas amarras, a do mercado capitalista.

Afixado dentro desse enorme comércio, a cultura andou perdendo sua característica contemplativa e reflexiva, ganhando um caráter de obra vazia de significações, apenas com valor de venda e aquisição de status.

Essa transformação gradual segue regras ditadas por uma ideologia, conhecida pelo nome de Indústria Cultural, onde toda e qualquer criação humana tornam-se eventos de consumo. São idéias transformadas em produtos culturais fabricados em série, ou seja, o que era uma obra original, hoje se encontra repetida e reprodutiva.

Ao contrário do que muitos poderiam imaginar, a cultura, através dos meios de comunicação, não se democratizou, pois para tanto, ela deveria representar o direito ao acesso, onde todos pudessem criticar, incorporá-las à suas vidas, superá-las e criar. A Indústria Cultural produziu um efeito oposto, a massificação da cultura.

Através dos preços, as indústrias já selecionam quem terá acesso a ouvir, ver e ler, introduzindo a segregação social entre “cultos” e “incultos”. E como toda boa empresa se utiliza de marketing, foi introduzida a idéia de cultura como entretenimento, em que tudo o que faz pensar, refletir e criticar não vende, pois a intenção do “comércio cultural” não é mexer com os pensamentos humanos, e sim, devolver com outra cara, aquilo que ele já sabe. O efeito produzido nessa teia da Industrial Cultural é a banalização do conhecimento e da criação.

E assim se fez palavras

Esse tempo é o mais sufocante. Fico realmente exasperada. O que me ocorre são apenas quimeras que [anseiam] explicar o porquê de tamanha demora... (o eu pensando: “... é como um intervalo de vida provocado pelo aumento considerável do coração, que comprime a caixa torácica, que, por sua vez, espreme, a ponto de diminuí-lo o tamanho, os pulmões.”) e assim se explica a sensação de sufocamento à cima.

Engraçado caro leitor, é assim mesmo! Rápido e EXASPERADO. Só que... Mesmo com essa aparência de parada cardíaca, ou... enfim... com essa velocidade, é longo demais esse tempo...

(procurando recompor-me dessa falta repentina de ar)

Pronto. Chegou a hora.

É porque caro leitor, escrever para mim é sempre trabalho. Talvez porque tudo se Aparece com uma certeza quase tão absoluta, que não sobra muito espaço para palavras batutas e inquietas, forçando infiltrarem-se por debaixo desse “tudo”, tentando içá-lo (assim como o magma fez com os continentes, imaginou?), desordenando-o, tirando-o do lugar, transformando-o.

O tempo entre pensar e colocá-lo impresso numa folha em branco (ou numa tela) torna-se realmente convulcionante. Isso parte exatamente do reconhecimento da força que as palavras têm e do risco iminente em usá-las. Mas como ariscar-se é ser livre (já dizia Sartre) escrevo cada uma dessas palavras já lidas por vocês e as próximas que virão, exercendo minha condição de livre, sem amarras. É como se eu tivesse bebido desse magma e pudesse de alguma forma, deixar para sempre registrado uma experiência, finalmente, iniciada por mim.