terça-feira, 21 de julho de 2009

O ser 'Outro'

A cada 15 SEGUNDOS uma mulher é agredida no Brasil.

domingo, 28 de junho de 2009

Não passa de canudinho

Quando recebi a notícia da anulação da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo, eu vibrei. Confesso que, com um pé atrás, mas vibrei. A partir de então, vi que eu contrariava as expectativas de praticamente todas as pessoas do meu círculo de convívio, em especial, meus colegas do curso de Jornalismo. Pus-me então, a buscar entender (e perceber) alguns problemas (práticos) que isso causaria a muitos profissionais da área e, mais ainda, a sociedade.


Foi aí que atinei sobre as possíveis (óbvias na verdade) arbitrariedades dessa decisão.


A mais debatida por aqueles que estão enfrentando uma vaga no mercado de trabalho, ou estão prestes a concluir a graduação, é a perda daquela para pessoas sem ‘qualificação’ para exercer, de forma ética, com bagagem teórica e técnica (obtida apenas nos cursos superiores) , esta profissão. E tem mais. Corre-se o risco desses postos de trabalho serem preenchidos por pessoas apadrinhadas, os famosos representantes dos QI’s.


Outra questão levantada foi a forma com que se conduziu essa determinação, e suas conseqüências mais evidentes. A falta de debate aberto ao público sobre uma decisão tão controvertida, serviu para evidenciar o real (e típico) jogo de interesses econômicos e políticos, em benefício próprio (dos juízes), e das grandes empresas de comunicação. A imediata conseqüência dessa estratégia de poder é a insegurança quanto ao piso salarial, com possibilidades de redução. O encadeamento prossegue ainda, com a especulação sobre a má exploração do trabalho do jornalista e o provável controle ideológico.


Todos esses motivos são bastante coerentes, e são, além disso, verdadeiros. Porém alguns deles são, no mínimo, questionáveis. A razão do meu entusiasmo inicial se deu a partir do momento que constatei os motivos que sustentam o medo dos jornalistas diplomados, e a consequente possibilidade de se discutir uma remodelação dos discursos dominantes da sociedade. Além de notar que, não é com a presença do diploma, que a dominação política-econômica-ideológica dos veículos de comunicação, reduzirá.


O debate com o público seria, sem sombra de dúvida, a mais acertada das iniciativas realizadas por aqueles (representantes do executivo) que levantaram o questionamento sobre a liberdade de expressão nos meios de comunicação – algo tão almejado por quem reivindica uma comunicação mais justa e democrática. Uma discussão aberta, traria posicionamentos plurais sobre a forma como está sendo direcionada a comunicação “social” no país; a situação de uma categoria de profissionais, e o que, de fato, um diploma representa em uma sociedade moldada pela materialidade.


Contudo, essa decisão denunciou que não haverá nenhuma mudança substancial, pois, a falta de discussão sobre aspectos de base e estruturais da comunicação foi (e é) motivada por interesses. Não se questionou, dessa forma, como a liberdade de expressão pode ser assegurada por uma comunicação monopolizada, mercadológica e autoritária. Porém, trouxe a tona a evidência de que os entusiastas do diploma não se deram conta que o canudo não faz (nunca fez) uma comunicação melhor, mais ética e menos aparente. Não notaram que reclamar o diploma, não os torna mais livres dos mandamentos das corporações e de uma ideologia conservadora baseada em vozes autorizadas, ou seja, antidemocrática. Não percebem que esse clamor é uma “luta” para se encaixar na roda do capitalismo espetacular, e não para transformá-lo


Diante desses reais problemas, os temas sobre mercado de trabalho ou salários suspensos, não representam, nem de longe, questionamentos imprescindíveis. Ao contrário, essas reivindicações atestam a falta de compromisso com a idéia de um jornalismo de luta e social, superior a adequações ao caráter de mercado e ‘prestador de serviço’ que o jornalismo representa atualmente. Revela ainda, que o medo dessa classe em (supostamente) perder seu posto sagrado, é impositivo e cego às possibilidades que um bom jornalismo traria se fosse encarado como algo público e de direito de todos. Um jornalismo capacitado em mediar os assuntos de interesse social, e não, para a venda de “produtos” ideológicos.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Trans-passado

Por quantas vezes se quer (o humano) mudar durante, digamos, um ano? Se eu fosse contabilizar eu diria que, provavelmente, por 365 dias. Mas isso, até parece uma boa estatística - dada a atual aparência do mundo, eu digo, alguém pode achar ótima a idéia de mudança martelando a cabeça dos indivíduos. Mas eu vos revelo o seguinte: essa insistência em (tencionar) mudar, por todos os dias, é a denuncia do fracasso e do medo.


Não há nada mas exato na existência do que a capacidade humana em mudar. Mas ao mesmo tempo, não há nada mais difícil. Em função disso, incuti-se, no entanto, que as razões são todas: a sobrevivência, a competição, as pequenas “mortes” diárias. Tudo se torna motivo de adiamento das mudanças (até as pequenas) necessárias.


As mudanças aos quais me refiro, são aquelas diluídas nas decisões mais cotidianas, com as pessoas mais próximas (mais amadas...), e sim, claro, com o locus, onde o curso da vida prossegue. Mudança. Nem que seja essa de separar o lixo doméstico por tipo de componentes, mesmo sabendo que sozinha, nada irá mudar. Ainda, parar de chamar o(a) companheiro(a) ao celular pretendendo regular seus passos, mesmo se corroendo de curiosidade (leia-se também ciúmes). Ou, até mesmo, homens realizando tarefas designadas socialmente para as mulheres, mesmo acreditando, nos seus pensamentos mais íntimos, na (suposta) necessidade de diferenciação por gêneros.


Por mais que a necessidade de transformação seja na ordem de valores (atualmente, diante das contradições socais, mais do que nunca), estabelecer novos hábitos já é um grande passo. Se o indivíduo acreditar, ao menos, na capacidade de vigiar sua maneira de portar-se de forma contrária ao que foi pré-estabelecido como “natural” no seu cotidiano, quem sabe, nas próximas duas gerações, o que era apenas a mudança de um hábito, se transforme numa mudança de fato.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

“Escurecer acende os vaga-lumes”


Poucas coisas me tocam mais do que a imagem. Não necessariamente as imagens realizadas e acabadas à sua frente, mas eu falo, principalmente, daquelas que se constituem em pequenas porções - muitas vezes desconexas, em alguma parte da sua cabeça, e você nem imagina como foram parar lá. Aliás imagina. Melhor ainda, você sabe. Sabe principalmente quando você se encontra na presença de palavras pronunciadas (escritas) por poetas como Manoel de Barros.
[A propósito, é bem possível que esse “como” sequer exista, mas sim, APENAS um senhor com cara de bonzinho, falando sobre o “inútil” (sem dúvida só ele acha isso) capaz de aliciar aquela partizinha do cérebro que estimula o que há de mais recôndito nos sentidos.]

E foram muitas imagens rebentadas de mim ao assistir o documentário “Só dez por cento é mentira”, no 4º Cineport, sobre esse carinha aí. Além de o filme ser uma co-i-sa de tão belo, com uma fotografia e uma montagem magnética e inteligente (onde eu me encaixaria depois dessa descrição, Naíza? xD), ele simplesmente reverencia o poeta que causou em mim uma das maiores frustrações da minha vida, a de não tê-lo conhecido antes.

Enquanto eu falo (tento), nas imagens que se revelaram em mim após meu encontro com o poeta, ele certamente já estaria roubando-as de mim e ocupando-as com palavras. “Imagens são palavras que nos faltaram”, foi exatamente o que ocorreu na minha topada com ele, e nem agora elas comparecem. Certamente porque não é disso que elas precisam - que falem delas, ou as expliquem, mas, simplesmente, que sejam sorvidas pelos poros, que sem sombra de dúvida, carregarão pêlos eriçados.
“Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa, era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem.”


sábado, 9 de maio de 2009

De boa-fé


Lá estavam. Pai e filho. Dia de domingo, shopping lotado e lá estavam. Pai e filho.

O primeiro (quero dizer o mais velho, o Pai) vestia uma camisa pólo cor sim cor não, e uma calça jeans. No seu colo, com um pouco mais de um ano, o filho com: camisa pólo cor sim cor não, e uma calça jeans. JURO. A imagem que veio a minha cabeça foi da... Como é mesmo o nome? Acho que é brotação de gemas, aquilo que se dá em alguns (ou todos...?) vegetais, esponjas do mar... e ... por aí... E, cara, parecia mesmo, a posição. Veja: Pai em pé – filho no braço, colocado um pouco de ladinho – e iguais, simplesmente, iguais.

Visualizou não foi? Pois é...


Mas o interessante não foi essa minha divagação (aliás, nem um pouco), mas, foi o que meu irmão, que me acompanhava, disse apontando para aqueles graciosos... brotos: “sabe o que é isso? vaidade!”. Neste momento me atinei para algo bastante óbvio (para mim, até segundos antes, não) e curioso: a extensão do termo vaidade. Eu quero dizer, extensão de significações (... muitas). De qualquer forma uma dessas (significações) já diz muito do que de interessante ela (a vaidade) tem. Possivelmente esse pai não só estava achando fofo o seu brotinho parecer seu clone em miniatura, mas, ele desejava (principalmente) que as pessoas (all) os visem da mesma forma, e os admirassem: “─ olha que bonitinho, pai e filhinho iguaiszinhos...”.


O problema é que isso não necessariamente representa um problema. (O.õ) E é aí exatamente onde entra minha pasmação (e o meu tempo “gasto” pensando nisso). Ao intencionar ser visto, em sentido digamos estético (é menor que isso...), ele apura as possibilidades de transpor uma realidade retraída em padrões. Obviamente que o indivíduo ao sair vestido de ... sei lá... qualquer excentricidade dessas aí que existem (ou que ainda não existem) estaria abrindo as portas da claridade do mundo. Não. Assim como esse pai não possuía pretensão alguma além de simplesmente, aparecer. Aliás, alguém dirá (e com razão) que esse pai talvez seja um egocêntrico, capaz de expor o próprio filho para desfrutar do seu deleite de: aparecer.


O que ocorre (ou ocorreu em mim), é que essa cena, descrita em detalhes a cima, me fez notar a importância - crucificada -, do mostrar-se, como uma forma, (porque não?) de transgressão. O fato de atrairmos a atenção de outras pessoas não é novidade alguma, aliás, fazemos isso o tempo todo, em todo lugar. Mas, talvez o que falta, é notar que o assombro provocado em quem nos observa, seja uma forma, tímida provavelmente, de quebrar um pouco a medida da normalidade, do conhecido e do aceito. Não seria estranho (apesar de parecer exagero) supor que aquele pai permaneceria oculto enquanto não se mostrasse na expressão do seu desejo. Ele, possivelmente, manter-se-ia (isso foi o Word) enclausurado em um corpo objetivo demais, domesticado demais.


Sem querer parecer deslocada da realidade, o que eu tento dizer nessa “prolixão” toda é que a apesar de conhecermos a realidade por meio de esquemas de objetivações das coisas, fenômenos e sujeitos, existe a possibilidade de transpor-la por intermédio do mostra-se como forma de arrancar o que realmente é por traz daquilo que, simplesmente, foi feito para ser.


Talvez seja por isso que a vida sem vaidade é quase insuportável. (Tolstoi)