terça-feira, 18 de março de 2008

Panfletagem Digital

“Muito antes de sentir "arte", senti a beleza profunda da luta. Mas é que tenho um modo simplório de me aproximar do fato social: eu queria era "fazer" alguma coisa, como se escrever não fosse fazer. O que não consigo é usar escrever para isso, por mais que a incapacidade me doa e me humilhe. O problema de justiça é em mim um sentimento tão óbvio e tão básico que não consigo me surpreender com ele – e, sem me surpreender, não consigo escrever.” (Clarice Lispector)

Tenho que admitir. Não consigo mais escapar disso – se é que algum dia já tentei. Mas na contramão do que revela Clarice Lispector à cima, escrever sobre; justiça, igualdade ou... alternativas humanas de vida é, para mim, uma necessidade. Talvez seja minha metade frustrada tentando justificar-se pela falta de AÇÕES de fato, ou seja, de atitudes na prática.

Com efeito, dizer que a história estacionou seu curso dinâmico, que não há mais nenhuma alternativa para o mundo – que não seja a ordem capitalista, é aceitar essa falta de ações por melhores condições de existência, como uma resposta natural de uma já “avançada sociedade”.

Não sei bem para que lado avançamos. Talvez pelo meio, isso! Bem pelo centro (no centro da Terra). De fato, todos os problemas, inerentes ao sistema, formam uma grande “bola de fogo”, crescendo solene, norteando a origem das pragas sociais.

São contradições enlaçando-se a contradições. Aliás, o “nosso” sistema sobrevive delas. Relações baseadas em interesses antagônicos, em que os conflitos permanecem endêmicos, mesmo sendo constantemente abafados. A banalização dos conflitos torna-se ainda mais evidente em sociedades (como a nossa) em que a situação de classes torna-se alarmente.

É como uma “lei da sobrevivência contemporânea”. Tiramos “a vida” de uns para o enriquecimento de outros. Mas somos muito mais refinados nesse intento, afinal, somos civilizados e pensamos essa relação de dominadores e subalternos como uma ordem necessária e comum. Os artigos dessa lei sustentam-se nessa descrença que circunda as mentes, até mesmo, dos esquerdistas mais fervorosos. Sustenta-se na idéia de que, mesmo sendo imperfeita, não há alternativa aceitável para a ordem capitalista.

Admitimos o Conservadorismo do Estado que teima em confundir interesses sociais com interesse do capital; sua insensibilidade em tratar a assistência social básica, travando nossos sistemas públicos numa eterna burocracia. Aceitamos dóceis ainda, as reformas superficiais (que não se inserem, intencionalmente, dentro de um quadro de mudanças profundas), guerras insanas para tornar o mundo mais seguro para o capitalismo, além da miséria, das dívidas entre países e uma lista infindável de mazelas provocadas por um sistema deformado.

Não sei o que me dói mais: a constatação de que o capitalismo se fortalece na mesma velocidade da luz, a ponto de não nos darmos conta, ou se é nossa desilusão quanto ao mundo que queremos ter. Talvez o que me doa mais é ter que ainda preencher mais um espaço nesse blog escrevendo nada de novo, sentada em frente a um computador, enquanto tudo acontece ao meu redor, debaixo dos meus (nossos) olhos.

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