“É... Na verdade eu me sinto um tanto envergonhada... Pois é! É exatamente por isso que você está pensando. A mais de um mês que eu não “passo” por aqui. Por tanto, devo minhas mais sinceras desculpas a quem ainda não desistiu (e a quem já desistiu, apesar de saber que eles não verão essas desculpas...) de dá uma olhadinha, de vez em quando, neste Blog.”
Digo logo! Custa-me acreditar em “instinto materno”. Talvez, as mulheres que DECIDEM ser mães adquiram esse potencial verdadeiramente admirável, mas, categorizar como algo tatuado em sua “natureza” realmente me custa acreditar. Mas pondo isso de lado, e mesmo sem encontrar ainda uma explicação, esse mês de maio, “mês das mães” (*.*), faz de mim uma MULHER bastante reflexiva.
Pensando bem, a explicação para esse momento de “devaneio” pode está aí, ser mulher. O que é uma pena, afinal, seria tão mais interessante ver homens participando mais do complexo bojo de decisões que é a vida daquela: ser simplesmente mulher, ou se transfigurar em esposas, nas noites quentes; em trabalhadoras, nos dias ensolarados; e em mães, nas madrugadas insones.
Inflexíveis, os papéis desempenhados pelas mulheres desencadeiam seqüências de alarmantes dificuldades no que se refere, principalmente, ao processo histórico de sua emancipação. Com a falta de compartilhamento que os homens e a sociedade tem na maioria das funções consideradas eminentemente femininas, como as responsabilidades com a família, a sobrecarga suportada por elas torna-se preocupante, mas ainda a poucos olhos.
A turva percepção da situação social da mulher revela um contexto recheado de preconceitos e uma divisão social de tarefas baseada no gênero. A baixa oportunidade e autonomia econômica, além de uma irrisória participação no processo de tomada de decisão e seu limitado acesso ao poder, fazem o número de mulheres pobres aumentar consideravelmente em relação aos homens.
Um agravante dessa situação é o inaceitável número de adolescentes grávidas. A maternidade precoce não só limita a melhoria da condição educativa da mulher, como agride a situação de vida daqueles que apenas começam a sentir seu gosto, as crianças. A desnutrição materna e a falta de acompanhamento médico, pré-natal, resultam em sérios problemas de saúde aos filhos. Não é sem motivo que a mortalidade é maior nos filhos de mães jovens, que em sua maioria também são pobres.
Recorrer ao aborto para escapar e não permitir que suas crianças vivam na extrema miséria é a mais desesperada atitude de uma mulher grávida em situação de calamidade. Os abortos clandestinos são praticados na sua imensa maioria por jovens, pobres e negras. Essa atividade ilegal representa um dos maiores problemas de saúde PÚBLICA que muitos países, incluindo o Brasil, convivem a cada dia sem que seja dada sua devida atenção. A clandestinidade do aborto causa seqüelas permanentes como a infertilidade e representa um dos maiores índices de mortalidade materna.
Por não encarar os DIREITOS sexuais como mais um dever a ser gerido pelo Estado - sendo entendido como direito constitucional à saúde -, muitas mulheres carregam a culpa e são punidas por recorrer à clandestinidade por falta de assistência. A imposição que a mulher sofre para manter uma gravidez indesejada, não apenas agride seu direito à saúde como também seu direito à liberdade.
Reconhecer a competência da mulher em decidir sobre sua sexualidade e maternidade é um respeito aos direitos humanos. Essa falta de respeito denuncia ainda o grau de desigualdade com que é tratado homens e mulheres na responsabilidade da concepção. A criminalização do aborto exclui os homens dessa responsabilidade e condena a mulher como a única “culpada” pela gravidez. Não se considera também a absurda imposição sexual masculina na hora de negociar o ato sexual como uma resultante da gravidez indesejada.
A moralidade social caduca, sobretudo a religiosa, permanece cega e irredutível sobre os fatos. Fatos esses que mostram mulheres condenadas a uma vida não planejada e crianças morrendo desnutridas ou de doenças que poderiam ser evitadas. A igreja condena o uso de contraceptivos e condena o aborto. Um ato de completa ignorância e descompasso com a realidade.
A existência não é dada. Ela se faz, se constrói. A vida é uma projeção para o ser, que por sua vez só o é, com atos. Sem isso ela não é nada, é só, talvez, uma vida em potencial. Legalizar o aborto é um ato de justiça social. É a preservação da vida em plenitude, da vida que acontece. Da vida de quem deve ter o direito de escolher ser mãe, numa atitude livre e responsável. Obrigar uma mulher a ser mãe é um ato conservador que encara a maternidade como um dever e não como uma forma de amor.
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