− Onde está?... Como?!... Perdeu-se?!
− Ficou pra trás.
− Não, você está enganada, eu o imaginava.
− Sim eu sei.
− Então? Como pode ter se tornado passado?
− Porque tudo passa, não mais existe no próximo segundo...
Fechei a porta, cadeado, o maior que encontrei. No ônibus, relógio no pulso, Atraso. Olho pro lado, passo, passou por mim. Minha atração de adolescência. Quantos sonhos...
Na redação o frio diário. Computador, escrevo, reviso, escrevo.
Café. Sempre tomo! Aqui é realmente muito frio.
Era uma matéria sobre “relações familiares”. A sugestão foi minha. Aceita. Fruto de uma pesquisa universitária tornou-se quase um projeto de vida. Cada estatística, cada contato, cada gravação. Tudo. E cá estou, escrevendo, revisando, escrevendo.
Acabou, leio pra ela:
− nossa! Ta ma-ra-vi-lho-so!
Sorri.
Tento ler. Tem um cara dormindo ao meu lado. Muita gente em pé, uma longa fila de carros.
Missão cumprida. Ela gostou, ela escreve bem, sabe o que é um bom texto. É.
− será que foi um acidente?
Algo me desassossega. Deixa-me ver: escrevi aquilo... coloquei a fala dele... Não, está tudo certo.
Aí que demora. Tem ar demais aqui. Mas como? Com tanta gente? Mas tem!
Ele entra gélido em mim. Parece que ta sobrando espaço, e ele esta circulando livremente dentro de mim, me fazendo ter calafrios e... dor de barriga. É. Eu estou nervosa e não sei com o quê...
− Aí que demora é essa?
Mas que vazio é esse aqui dentro? Não entendo, agora mesmo estava radiante com MINHA matéria.
Mas ai está! Não é por conta da matéria, sou EU. Isso. EU!
Acabei, fiz um ótimo trabalho, mas agora cá estou, tendo que aturar a mim mesma. Sozinha. Sem mas nada a fazer. Acabou!
− finalmente esse ônibus sai do lugar!
Foi um longo tempo perseguindo esta meta. Um bom trabalho, uma boa recompensa. Todos comentando o texto. “o glamour”
A insaciabilidade desse objetivo se desfaz, desmancha. Todo aquele tempo como um meio de alcançar. Nada era o bastante, pois faltava alcançar, sempre.
Cheguei. É apenas desilusão.
Talvez seja melhor passar antes na casa dela. Acho que já está em casa. Tudo me lembra o que ela havia me dito antes. É. É melhor ir.
Meu tempo como um meio. Minha vida como um meio. E o fim desvanecido com o objetivo satisfeito. Que inútil.
Tudo isso. Tanto tempo perdido. Tantos sentimentos e vontades e repentes... adiados por um fim OCO!
Ta. Tudo bem. Que drama!
Eu ainda tenho muitas idéias, vontades, paixões...
Mas pra quê? Pra tudo se tornar pó, e se reconstituir, e ser pó de novo. É realmente inútil.
– MOTORISTA! vai descer!
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