Por quantas vezes se quer (o humano) mudar durante, digamos, um ano? Se eu fosse contabilizar eu diria que, provavelmente, por 365 dias. Mas isso, até parece uma boa estatística - dada a atual aparência do mundo, eu digo, alguém pode achar ótima a idéia de mudança martelando a cabeça dos indivíduos. Mas eu vos revelo o seguinte: essa insistência em (tencionar) mudar, por todos os dias, é a denuncia do fracasso e do medo.
Não há nada mas exato na existência do que a capacidade humana em mudar. Mas ao mesmo tempo, não há nada mais difícil. Em função disso, incuti-se, no entanto, que as razões são todas: a sobrevivência, a competição, as pequenas “mortes” diárias. Tudo se torna motivo de adiamento das mudanças (até as pequenas) necessárias.
As mudanças aos quais me refiro, são aquelas diluídas nas decisões mais cotidianas, com as pessoas mais próximas (mais amadas...), e sim, claro, com o locus, onde o curso da vida prossegue. Mudança. Nem que seja essa de separar o lixo doméstico por tipo de componentes, mesmo sabendo que sozinha, nada irá mudar. Ainda, parar de chamar o(a) companheiro(a) ao celular pretendendo regular seus passos, mesmo se corroendo de curiosidade (leia-se também ciúmes). Ou, até mesmo, homens realizando tarefas designadas socialmente para as mulheres, mesmo acreditando, nos seus pensamentos mais íntimos, na (suposta) necessidade de diferenciação por gêneros.
Por mais que a necessidade de transformação seja na ordem de valores (atualmente, diante das contradições socais, mais do que nunca), estabelecer novos hábitos já é um grande passo. Se o indivíduo acreditar, ao menos, na capacidade de vigiar sua maneira de portar-se de forma contrária ao que foi pré-estabelecido como “natural” no seu cotidiano, quem sabe, nas próximas duas gerações, o que era apenas a mudança de um hábito, se transforme numa mudança de fato.