domingo, 17 de agosto de 2008

Rua em exposição

Exatamente aquilo que está por trás da evidência, é arte. É também a desmascaração da aparência que o mundo nos apresenta e ainda nossa capacitação para a compreensão da realidade. Mas na verdade, ela não necessariamente tem esses definidos conceitos, nem essa bonita ordem. Não.


Tudo bem, comecemos de novo.


Pense naquilo que te faz sentir a pele ao avesso, e - como que com um toque - te revirasse o estômago. Como se o eriçamento dos pêlos já não sustentasse mais sozinho, à tamanha sensibilidade. Já não expressasse mais nenhum encantamento. É um up na intuição e um blow up na imaginação. Isso é arte. É o começo do exercício-sensível.


Quando se passa a enxergar possibilidades ao invés de realidades, pensa-se “artisticamente”, imagina-se. Cria-se um universo flexível, estratificado e sinestésico. Intui-se a presença do ausente, revela-se a fragilidade do existente. Sente-se. Deslumbra-se.


Exercitar essa sensibilidade em arte é manter contato com ela. É perceber suas sutilezas em uma convivência aberta e eclética. É se exaurir em cada obra em sua condição de exclusividade e esclarecer a emoção com sentimento e não com a razão. Para tanto, o ingresso a essa prática se dá apenas com uma arte democratizada, longe dos templos-museu, longe da onipresença.


Muitas vezes, a facilidade de estarmos diante de uma obra de arte é tão grande, que não a percebemos. Ela pode estar numa esquina, na sacada de uma casa, ou até mesmo numa placa de sinalização. Sua rua pode abarcar personagens fictícios, figuras exaltadas, mensagens subliminares, mensagens de protestos ou... um homem sem cabeça. (vai entender!).


A produção artística ganha seu real sentido se tiver público. Assim, nada mais óbvio que deixá-la (ou fazê-la) em público. Não há estratégia mais democrática que aproximar as pessoas da obra de arte e fazê-la interagir. Causar-lhes sensações, deslumbramentos ou espasmos de compreensões de mundo, é a intenção primeira da arte. Fazer mostrar o mundo como passível de ser compreendido e até mesmo transformado.


Não seria um verdadeiro confronto com a realidade encontrar nas avenidas mais movimentadas obras ousadas que tocassem em nossa imaginação, que nos surpreendessem? Estranhas, bizarras, curiosas, mas ao mesmo tempo criativas e híbridas de significações. Isso é arte de rua. Com um olhar mais apurado podemos notar o quanto artes como essas, podem falar o mundo, subverter o “aceitável”, instigar reações e, simplesmente, deixar o espaço mais sociável.

(arte em 3d)


(Suficientemente quente)


Alessandra Cestac (http://www.alessandracestac.com.br/)

(sutileza)

(Quixote)

O meio onde a obra de arte se realiza não é um acaso ou uma escolha indiferente do artista. É a expressão de um fazer artístico, de uma arte intencional. A intervenção urbana é a forma de revelar a arte como possível de ser observada e ser exercitada.


Entendida como a comunicação mais transparente e revolucionária, a arte instaura a possibilidade de “erguimento” de uma nova condição de vida. Ela transgride o comum na busca por caminhos pré-reais, por caminhos “bifurcadores”.


2 comentários:

Joel Cavalcanti disse...

Perfeito o texto meu amor!!! Melhor, inclusive, ou "mais artístico" que muitas intervenções que você ilustrou no teu magnífico texto.

Acredito que a coisa mais difícil que existe em um texto seja criar novos significados, definições para as coisas. E aqui temos vários, e todos eles irretocáveis, irrepreensíveis...

Parabéns Dé, você também fez arte aqui. =*

Tarcisio Oliveira disse...

muito bom o texto dérika.parabens.
otimas fotos e otimos "scrips".