Quando recebi a notícia da anulação da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo, eu vibrei. Confesso que, com um pé atrás, mas vibrei. A partir de então, vi que eu contrariava as expectativas de praticamente todas as pessoas do meu círculo de convívio, em especial, meus colegas do curso de Jornalismo. Pus-me então, a buscar entender (e perceber) alguns problemas (práticos) que isso causaria a muitos profissionais da área e, mais ainda, a sociedade.
Foi aí que atinei sobre as possíveis (óbvias na verdade) arbitrariedades dessa decisão.
A mais debatida por aqueles que estão enfrentando uma vaga no mercado de trabalho, ou estão prestes a concluir a graduação, é a perda daquela para pessoas sem ‘qualificação’ para exercer, de forma ética, com bagagem teórica e técnica (obtida apenas nos cursos superiores) , esta profissão. E tem mais. Corre-se o risco desses postos de trabalho serem preenchidos por pessoas apadrinhadas, os famosos representantes dos QI’s.
Outra questão levantada foi a forma com que se conduziu essa determinação, e suas conseqüências mais evidentes. A falta de debate aberto ao público sobre uma decisão tão controvertida, serviu para evidenciar o real (e típico) jogo de interesses econômicos e políticos, em benefício próprio (dos juízes), e das grandes empresas de comunicação. A imediata conseqüência dessa estratégia de poder é a insegurança quanto ao piso salarial, com possibilidades de redução. O encadeamento prossegue ainda, com a especulação sobre a má exploração do trabalho do jornalista e o provável controle ideológico.
Todos esses motivos são bastante coerentes, e são, além disso, verdadeiros. Porém alguns deles são, no mínimo, questionáveis. A razão do meu entusiasmo inicial se deu a partir do momento que constatei os motivos que sustentam o medo dos jornalistas diplomados, e a consequente possibilidade de se discutir uma remodelação dos discursos dominantes da sociedade. Além de notar que, não é com a presença do diploma, que a dominação política-econômica-ideológica dos veículos de comunicação, reduzirá.
O debate com o público seria, sem sombra de dúvida, a mais acertada das iniciativas realizadas por aqueles (representantes do executivo) que levantaram o questionamento sobre a liberdade de expressão nos meios de comunicação – algo tão almejado por quem reivindica uma comunicação mais justa e democrática. Uma discussão aberta, traria posicionamentos plurais sobre a forma como está sendo direcionada a comunicação “social” no país; a situação de uma categoria de profissionais, e o que, de fato, um diploma representa em uma sociedade moldada pela materialidade.
Contudo, essa decisão denunciou que não haverá nenhuma mudança substancial, pois, a falta de discussão sobre aspectos de base e estruturais da comunicação foi (e é) motivada por interesses. Não se questionou, dessa forma, como a liberdade de expressão pode ser assegurada por uma comunicação monopolizada, mercadológica e autoritária. Porém, trouxe a tona a evidência de que os entusiastas do diploma não se deram conta que o canudo não faz (nunca fez) uma comunicação melhor, mais ética e menos aparente. Não notaram que reclamar o diploma, não os torna mais livres dos mandamentos das corporações e de uma ideologia conservadora baseada em vozes autorizadas, ou seja, antidemocrática. Não percebem que esse clamor é uma “luta” para se encaixar na roda do capitalismo espetacular, e não para transformá-lo
Diante desses reais problemas, os temas sobre mercado de trabalho ou salários suspensos, não representam, nem de longe, questionamentos imprescindíveis. Ao contrário, essas reivindicações atestam a falta de compromisso com a idéia de um jornalismo de luta e social, superior a adequações ao caráter de mercado e ‘prestador de serviço’ que o jornalismo representa atualmente. Revela ainda, que o medo dessa classe em (supostamente) perder seu posto sagrado, é impositivo e cego às possibilidades que um bom jornalismo traria se fosse encarado como algo público e de direito de todos. Um jornalismo capacitado em mediar os assuntos de interesse social, e não, para a venda de “produtos” ideológicos.
2 comentários:
Foufis, tem uma discussão legal disso aqui: http://meiodonada.blogspot.com/2009/06/jornalistas-de-luto.html
O autor do texto em si (Breno) é totalmente contra a decisão do stf , mas tem um outro, com o apelido de tautologico (Andrei) que é a favor. Aí a discussão nos comentários entre ele e o irmão do Breno (Túlio, lá como Mythus) rende.
'O meio é a mensagem' dérika! rsss
parabens pelo texto..escuto sua voz quando o leio
(e tem texto novo no meu blog...claro que ele não chega aos pés do seu)
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